terça-feira, 13 de agosto de 2013

Diário de Férias (XIII/2013)

Hoje é o meu último dia de praia.

Se fosse no "antigamente", o último dia seria a 31 de Agosto.

Por esta hora estaríamos numa excitação.

Os miúdos e os graúdos, os amigos e os conhecidos e até penetras de ocasião, todos juntos, a preparar o último banho da temporada, sempre especial.

Íamos todos vestidos - roupas estranhas - e pintados à água. Primeiro em correria até às rochas e depois o mergulho colectivo.

Era uma festa bonita, bem engraçada para marcar o último dia. E há fotos q o provam.

Diário de Férias (XII/2013)

Quando és jovem, ir "ao mar" é o fim último da praia.

Nós íamos muitas vezes: à chegada, antes de almoço, logo a seguir ao almoço, uma hora depois da sandes com manteiga, logo a seguir, um mergulho depois do lanche.

Eram cinco, seis, sete, oito banhos no mar, todos os dias, às vezes até a chover (a água está melhor, o problema é depois, mas isso é só depois, logo se via).

Os anos foram passando, os amigos de sempre foram deixando de se conseguir encontrar na "nossa" praia e os mergulhos começaram a diminuir.

Porque fomos ficando mais velhos, porque ficámos com menos férias, porque fomos educados a não ir sozinhos à água, porque chegou a geração seguinte e as responsabilidades são outras...

Isto tudo para dizer q hoje, 17 dias depois, fui ao mar.

A água estava fria, mas tive companhia e isso fez toda a diferença.

A Marlene Belo puxou por mim e fomos mesmo, o Miguel já lá estava e a Luciana Marques só não entrou porque estava de olho na sua princesa, mas falámos - de pés na água - sobre as diferenças nas nossas atitudes e, realmente, as coisas estão muito diferentes e, agora, até parece q os mergulhos até já, quase, não fazem falta.

Diário de Férias (XI/2013)

Quando éramos putos a praia começava a 1 de Julho e terminava a 31 de Agosto. Para estarmos à vontade e termos espaço, os pais alugavam três barracas seguidas.

Agora, basta uma porque nunca cá estamos todos ao mesmo tempo.

Hoje, pq é dia de transição, - o nosso vizinho de baixo já foi embora e a barraca do vizinho de cima não está alugada - voltamos ao antigamente e ainda bem.

A "culpa" é de (alguns) elementos da 3a geração q hoje aqui se juntaram.

É logo uma animação diferente e é bem catita.

Diário de Férias (X/2013)

Chegou a ser uma das distracções da moda, mas nos últimos anos andava meio esquecida.

Hoje voltei a ver um miúdo praticar e tive um ataque de nostalgia.

O Luís Clímaco tinha uma prancha de Skimy (skimboard, como se chama agora) e era craque.

Passei muitas horas a vê-lo, a ele e ao Marco, a apanhar os "restos das ondas".

Eu, com o meu jeito e equilíbrio naturais, tentei algumas vezes e eram sempre os dois (?!) segundos mais extraordinários antes de grandes trambolhões.

Diário de Férias (IX/2013)

Gosto de sol, mas não gosto de estar ao sol.

No entanto, até percebo esta coisa do "trabalhar para o bronze" desde q seja com o mínimo de bom senso, pondo protector antes, evitando se possível as horas de calor e não estando muito tempo seguido.

Outra coisa diferente é querer, numa tarde. passar do anúncio a uma lixívia para um anúncio a um bronzeador.
Já vos tinha falado das famílias q vêm para a praia só ao domingo como se não houvesse amanhã.

Está ali dois homens deitados ao sol há bem mais de uma hora, apesar dos constantes avisos da família.
Vão ficar em estado "camarão" não tarda.

Não percebo tremenda inconsciência.

Diário de férias (VIII/2013)

Cheira-me q foi apenas coincidência, mas bem q podia ser o regresso de uma "tradição" q está em vias de extinção.

Ali à beira-mar estão umas três almofadas em monte, sem ninguém por perto. Era um clássico, acontecia-nos sempre e, às vezes, mais q uma vez.

Em tempos idos, o normal era deixarmos cadeiras e almofadas nas barracas de um dia para o outro... às vezes, à chegada, havia "falta de material".

Alguns engraçadinhos vinham para a praia de noite, "pescavam" algumas almofadas e amontoavam-nas algures numa fila ou à beira-mar.

Normalmente tudo se recuperava e nós até agradecíamos o exercício.

A tradição está a perder-se pq agora é cada vez mais raro deixar as coisas nas barracas. Já ninguém arrisca um assalto ou uma "operação de busca" e prefere pagar mais uns euros e deixar as coisas em segurança num local junto à praia.

A minha cadeira vai e vem todos os dias.

Diário de férias (VII/2013)

Nós também tivemos o nosso momento "vamos ali molhar os pés" q demorou não sei quantas horas.
Eu, a Kika Luciana Marques, o Louis Teles, o Marco e, pelo menos mais uma pessoa q não me lembro, fomos só ali molhar os pés.

Estávamos a fazer a digestão, era preciso passar tempo e, pronto, fomos andando para o Porto de Abrigo.

Sabem os q conhecem a Nazaré q ir pela areia até ao Porto de Abrigo é coisa para demorar mais de uma hora.

Sempre na palhaçada quando lá chegámos decidimos regressar por cima, pelo paredão, para ver as motos (havia sempre grandes motões estacionados por ali). Com as paragens para ver as máquinas voltámos a demorar mais uma hora e tal.

Quando finalmente chegámos à barraca, felizes e contentes, calmos e serenos, parecia o fim do mundo. A minha mãe, a mãe da Kika, a tia do Marco, tudo em "ponto de rebuçado", já a chorar porque os miúdos, de certeza, q tinham sido raptados.

Poupo-vos os pormenores, mas foi o bom e o bonito.

Só vos digo q quem pagou o "pato" fui eu pq era o mais velho da pandilha. A Marlene Belo dessa vez não foi e safou-se de boa.

Diário de praia (VI/2013)

Está ali uma miúda a levar uma descasca das antigas pq "desapareceu" da vista por uns minutos.
Não se perdeu, só demorou mais do q a conta a "molhar os pés".

Aliás, tenho para mim q os putos de hoje são mais inteligentes e já não se perdem.

Dantes, quando alguém era encontrado era levado ao posto de Turismo e as características da criança eram anunciadas alto e bom som em toda a praia. Aos anos q já ninguém é anunciado, mas o posto continua lá.

Quando eu era pequeno essa sempre foi uma das grandes preocupações da minha mãe e dos outros adultos do grupo.

Logo no primeiro dia de praia, consoante a fila da barraca, era-nos ensinado um ponto de referencia. "A fila da torre amarela, a fila do posto médico, a fila das casas de banho, a fila dos gelados, a fila da bandeira".

Não há memória de algum de nós se ter perdido, mas eu ainda apanhei um susto (pelo menos eu acho q sim, mas mais ninguém confirma esta minha estória e, portanto, já não sei se foi em sonhos).

Uma vez ficámos na Fila1, fui à beira-mar e depois, em vez de subir e virar para a esquerda, virei para a direita e andei ali um bocado aos papéis até encontrar a minha mãe e a Marlene Belo q vinham ter comigo para mais um banho.

Diário de praia (V/2013)

Chegar e ouvir o mar é sinal de bandeira amarela e de ondas, como eu gosto.

Bom, a bem da verdade, nem sempre foi assim: tinha medo do mar, não ia sozinho e nunca com bandeira amarela. Cheguei a apanhar alguns sustos e lembro-me q uma vez alguém me agarrou quando eu já seguia bem enrolado na onda.

Graças à natação, ao prof Pedro e ao meu primo Manel perdi o medo, passei a fazer várias avarias e tornei-me "especialista".

Com o mar assim há três estratégias possíveis:
- respeitar a "regra" e estar com água até à cintura.
- aproveitar as ondas e "apanhar carreiras".
- passar a zona da rebentação e "saltar" as ondas.

Não gosto nada da primeira hipótese pq se fica no pior sítio a levar com várias sequências de ondas mesmo em cima. O risco de te enrolares é enorme. Só tem "graça" se quiseres ver os nadadores-salvadores em acção.

A segunda hipótese é a mais espectacular mas tens q perceber bem em q mar estás, qual a sequência das ondas e tens q estar em forma pq podes ficar rebentado à segunda "carreira".
A terceira hipótese tem o seu quê de "sou o maior" pq ao passares a onda ficas com a ideia falsa q lhe ganhaste.

Claro q há sempre uns artistas q têm uma quarta versão: têm medo do mar e agarram-se à corda q vai da areia à bóia. Aí, para quem gosta de se rir com a desgraça alheia, não há melhor espectáculo.

Com o avançar da idade, voltou a aumentar o respeito pelo mar, mas de quando em vez tenho saudades das "carreiras".

Diário de férias (IV/2013)

Vir à praia aos domingos era para "patós" - aqueles q traziam a família toda, sogra incluída, mais o cãozinho, o farnel, o chapéu de sol, o jornal e o tinto e saiam com o inevitável escaldão -.

Não eram como nós, os habituais, q tudo dominavam desde as marés ("está a encher", "está a vazar", "hoje vamos ter ondas") até às digestões ("uma bola com manteiga é uma hora" ou "se formos já ainda damos um mergulho antes da digestão" - diz a lenda q há um intervalo entre o fim da comida e o inicio da digestão prai de meia-hora) passando pela magistral gestão do tempo e do espaço ("vamos comer já para ir antes de toda a gente" ou "bora jogar à carica na hora de almoç" - pq havia mais espaço).

Claro q esta regra de não haver praia aos domingos caiu quando fui para Lisboa estagiar e a Antena1 me permitia folgar aos fins-de-semana (um luxo). Nesse ano só houve praia aos sábados e domingos e já foi muito bom. Acabaram-se logo os complexos de superioridade.

Fui agora à beira-mar espreitar o mar. Ali para a esquerda, mais na zona da bola Nívea, lá estão os chapéus e as famílias grandes. Não deu para reparar no farnel, mas a geleira gigante lá está.

Sorri. Ainda há tradições.